domingo, 30 de junho de 2019

As ditaduras em que vivo


Já era adulta e mãe três filhas e meia quando se deu o 25 de Abril. Vivi, pois, muitos anos numa ditadura. Hoje vivo numa série de ditaduras.
É a ditadura do politicamente correcto de que já estou cansada.
É a ditadura da prática discursiva sexista. Houve uma alma lunática que alvitrou que dizer cidadãos era uma prática discursiva sexista. E começaram os políticos a falar em cidadão e cidadã, trabalhador e trabalhadora, português e portuguesa, todos e todas… Eu, que sou mulher, continuarei a dizer portugueses para todos os naturais de Portugal. E, para quem aderiu a esta palhaçada, pergunto se dizer sempre em primeiro lugar o plural masculino, e só depois o feminino, não será também uma prática discursiva sexista.
É a ditadura dos antirracistas. Se um bairro é habitado por pretos, sejam eles de onde forem, por que não é aceite falar no bairro de pretos. É apenas uma constatação; não é pejorativo. Se disserem que o meu prédio é de brancos, só estão a constatar uma realidade. Não estão a insultar nenhum dos habitantes do meu prédio.
É a ditadura dos animais. Os animais devem ser bem tratados como animais, não devem ser tratados como pessoas que não são. Não são “o bebé”, “o menino”, “o filho”… São o animal lá de casa, de quem todos gostam.
É a ditadura dos ciganos. Se alguém disser que, genericamente, os ciganos vivem de subsídios é apenas uma constatação, mas essa pessoa é logo insultada.  Os ciganos, genericamente, não têm um trabalho fixo. Isso não faz deles nem mais nem menos que os brancos. Todos devem ser tratados como seres humanos. Respeitados quando se dão ao respeito e punidos se a situação o justificar, como qualquer cidadão.
É a ditadura dos LBGT. Discordar das paradas do orgulho LGBTI já é motivo para se chamar nomes a alguém. A orientação sexual de cada um é um assunto que só ao próprio diz respeito, mas é uma decisão do próprio; não é para exibir. Ou bem que querem ser iguais, ou bem que querem exibir-se.
É a ditadura da extrema esquerda. Se ninguém se insurge contra a extrema esquerda, por que se ostraciza quem acha legítimo haver extrema direita? Onde fica a liberdade quando se proíbem partidos de extrema direita?
É a ditadura do nacionalismo que, segundo o dicionário, é o mesmo que patriotismo. Um partido que advoga o patriotismo é olhado como fascista, de extrema direita, …
Não é politicamente correcto ser honesto e a ganância para conquistar votos leva os partidos a mentir aos eleitores particularmente nas campanhas eleitorais. A radicalização esquerda-direita tornou-se, lamentavelmente, um Benfica-Porto. Passou a ser criminoso um partido da chamada esquerda concordar com algo vindo da chamada direita e vice-versa. Isso inviabiliza qualquer reforma estrutural.
Vivemos não numa ditadura, mas numa série delas e aquilo que é importante fica para as calendas. Temos um nível de corrupção assustador  perante a passividade dos políticos; uma justiça que é célere com quem rouba 5 euros de gasolina mas deixa prescrever quando se cometem os grandes roubos; uma educação onde os professores deixaram de ser professores para serem burocratas a quem dão um tempinho para dar umas aulas; uma saúde onde faltam médicos e enfermeiros e os que há estão profundamente desmotivados e uma comunicação social que levanta as “ondas” mas deixa que o tempo as esqueça. A única classe política satisfeita é a dos políticos.
O Estado não nos deixa ser livres. Estamos numa confusão de ditaduras onde até o inofensivo piropo já é crime.
Não é este o Portugal que eu esperava deixar aos meus netos.
Por favor, deixem-nos viver!