sábado, 31 de janeiro de 2009

Escolaridade obrigatória até ao 12º ano

José Sócrates falou mais uma vez. Veio dizer ao país aquilo que qualquer cidadão, inocente ou culpado diria – que está inocente. Confio tanto em José Sócrates como em Isaltino Morais, ou Valentim Loureiro, ou quase todos os outros. Não confio na justiça que, se até hoje levou ao fim algum caso que envolvesse poderosos, os inocentou. Confio tanto nos juízes como nos advogados. Estão lá para ganhar o deles. Deus nos livre de precisar da justiça ou dos serviços públicos de saúde!
Por isso não me interessam as últimas palavras de José Sócrates. Que a corrupção existe, existe. Ninguém, com ordenado de ministro, presidente de Câmara ou qualquer cargo político (excepção feito aos cargos de confiança política como presidente da CGD, director do BP, etc.) enriquece a trabalhar e há milhares de políticos que enriqueceram. Adiante.

Mas, de uma das vezes que José Sócrates falou, levantou a bandeira da escolaridade obrigatória até ao 12º ano. Disso tenho conhecimentos para falar.
O alargamento da escolaridade obrigatória até ao 9º ano já foi há tempo suficiente para se poder fazer uma avaliação dessa medida. Para mim traduziu-se na passagem da quarta classe para o 9º ano.
Alice Vieira disse, no dia 19 de Janeiro de 2009, ao Público: “Eu comecei a ir às escolas há 30 anos, para apresentar o meu primeiro livro “Rosa, minha irmã Rosa” e ia falar com os alunos de 3.º e 4.º anos. Agora vou, exactamente com o mesmo livro falar a alunos dos 7.º e 8.º anos. Alguma coisa está mal. É assustador! Outra coisa assustadora é a utilização da Internet.” Estas palavras só vêem corroborar a minha opinião.
José Sócrates, em campanha eleitoral, enche a boca com o alargamento da escolaridade obrigatória até ao 12º ano. Até me arrepia esta ideia. Assim. Isolada. Vamos mudar a 4ª classe para os 18 anos? Depois é só fazer exames compatíveis com as estatísticas que o Governo quer. E como o povo não quer exigência estará tudo bem.
É tão fácil ser um “bom” Ministro da Educação para o povo e para as estatísticas! Dificil é sê-lo para os jovens deste país.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A postura da DECO

Aqui há tempos, o Governo considerou haver arredondamentos dos juros à habitação cobrados indevidamente. O meu banco comunicou-me que os contratos de crédito se encontravam dentro da Lei em vigor na data de assinatura dos mesmos. Pelo que não há arredondamentos a pagar
Para saber se o meu banco estava a agir conforme a lei, enviei um mail para a DECO que respondeu:
“Na sequência da sua comunicação, e através dos dados que transmitiu, não conseguimos verificar a sua condição de sócio. Nessa medida, agradecemos-lhe que nos dê conhecimento do seu número de sócio através de resposta a este mail e juntando o seu primeiro mail ou, em alternativa, usando a Linha Azul* 808 200 145, de 2ª a 6ª, entre as 9.00 e as 13.00 e entre as 14.00 e as 18.00 (6ªs feiras só até às 17.00).
Agradecendo desde já a sua colaboração, subscrevemo-nos, com os melhores cumprimentos,
O Serviço de Informação da Deco Proteste”
Como não sou sócia, optei pela alternativa de ligar para a linha azul. Estive minutos infindos a ouvir publicidade da DECO e, depois de muita espera veio uma gravação de uma menina pedindo para carregar na tecla 1 se soubesse o número de sócio ou aguardar se não soubesse esse número ou não fosse sócia. Esperei. Mais umas musicas e veio uma menina a quem fiz a pergunta. Respondeu-me que só davam resposta a sócios.
Fiquei sem resposta para a minha pergunta e danada por ter sido ludibriada pela DECO. Se não dão qualquer esclarecimento a não sócios, por que razão, no serviço telefónico de informação, mandam esperar os não sócios? É só para os cidadãos pagarem a longa chamada telefónica? Será que a DECO também tem ligação à PT? Não seria mais honesto, logo no início da chamada, avisar que a linha se destina exclusivamente a sócios?
Claro que, de uma empresa destas, nunca serei sócia.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Era... mas já não é.

Os deputados Alegres deixaram cair a máscara e votaram a mesma suspensão da avaliação dos professores em sentido contrário ao da última vez. Se calhar, parafraseando Augusto Santos Silva, foram chamados à pedra.
Os Alegres querem estar de bem com Deus e com o Diabo. A política e os políticos que temos são estes. Sem valor e sem valores.

Enquanto eu fazia as rabanadas e os sonhos, Santana Castilho escrevia:

"Era mas já não é. O que é?

Era necessário observar aulas de professores avaliados, mas já não é. Só a pedido, para quem aspire a ser muito bom ou excelente.
Era necessário observar três aulas, mas já não é. Duas chegam, a pedido.
Era o coordenador que avaliava os colegas de departamento, mas já não é. Agora pode vir alguém de fora, rigor científico protegido.
Era muito importante cumprir objectivos previamente definidos, mas já não é. Os resultados escolares e as taxas de abandono deixaram de contar.
Era necessário fazer reuniões entre avaliadores e avaliados, mas já não é. Basta que estejam de acordo.

Era um processo para todos, mas já não é. Ficam de fora os contratados para determinadas áreas tecnológicas e artísticas, não pertencentes aos grupos de recrutamento, e os que se reformarão até 2011. Tudo somado, uns belos milhares.
Era preciso desdobrar um monte de fichas numa montanha de parâmetros para chegar a uma avalanche de itens, mas já não é. Caiu o número quê bê.

O que é? A saga da avaliação do desempenho no seu melhor, a política a descer ao charco. A juventude socialista foi para a porta das escolas doutrinar os alunos com manifestos apelativos. Nos jornais, os de distribuição gratuita incluídos, em prática antes nunca vista, publicam-se anúncios, pagos com o dinheiro dos nossos impostos, para arregimentar o pagode. Os endereços electrónicos dos professores, facultados para outros fins, protegidos pela ética da protecção de dados, ora mandada às malvas, são usados pelo Ministério da Educação, para manipular e pressionar. A remuneração complementar dos futuros directores das escolas, os peões que a visão napoleónica de Sócrates começa a colocar no terreno, subiu quase 50 por cento. Aos saltimbancos da profissão acenou-se com um generoso aumento de vagaspara o próximo concurso. O que é? A investida do Governo para dividir e desmobilizar os professores, no sentido de esvaziar a greve marcada para 19 de Janeiro.

Já aqui escrevi que a avaliação é um epifenómeno menor de uma política desastrosa para a qualidade da educação. Neste conflito, já perdeu o país. Já perderam os alunos. Já perdeu o Governo, o primeiro-ministro e a ministra da Educação. Podem agora perder os professores se não perceberem, como classe com responsabilidade social particular, que é a dignidade deles e a qualidade da escola pública que estão em jogo.
Talvez possamos ser indulgentes para com os pobres que vendem o voto por electrodomésticos distribuídos porta a porta. Mas não esperem os professores indulgência se cederem às primeiras facilidades e aceitarem sinecuras sem princípios.…"


Vieram as ameaças aos professores que recusem a avaliação, com processos, e aos Conselhos Executivos, com demissão. Os Conselhos Executivos, futuras Direcções, que já estavam, na sua grande maioria, de cócoras perante a Ministra, agora não vão querer perder os brutais aumentos das suas remunerações complementares. Associar o poder pelo poder, a um outro poder (o de compra) e, ainda por cima sem ter horário lectivo ou tê-lo reduzido, é ouro sobre azul. Assim a Ministra compra as direcções das escolas...
Coitados dos professores que não puderam reformar-se! Agora têm que lutar contra uma série de Ministros - a central e os locais.

"A violência, seja qualquer for a maneira como se manifesta, é sempre uma derrota"
Jean-Paul Sartre