quinta-feira, 31 de julho de 2008

Para que servem 230 deputados?

O Presidente da República falou ao país. Não me apetece fazer comentários a essa intervenção embora me apetecesse dar a independência aos Açores e à Madeira para não nos incomodarem mais e fazerem os "lindos" com o seu dinheiro e não com o nosso.
Mas houve algo que me começou a fervilhar na cabeça. O diploma da discórdia tem uma série de inconstitucionalidades. Assim o disse o Tribunal Constitucional que deve ser credível. Digo eu...

Os duzenta e trinta deputados da Assembleia da República aprovaram este diploma por unanimidade. Sim. Disse a comunicação social. Unanimidade. Agora pergunto. Que fazem duzentos e trinta deputados, que na sua maioria são advogados? Não deveriam eles perceber de leis? Não deveriam eles ler os documentos antes de se pronunciarem sobre eles? Não deveriam eles detectar as inconstitucionalidades? São 230 seres pensantes, digo eu...

Isto não vai lá. Mesmo. O nosso futuro está entregue a esta gente.

Deve ser por estas coisas que se diz que a função pública está cheia de incompetentes...
Na sequência do que escrevi ontem, será que os duzentos e trinta deputados estão à espera de ver os seus vencimentos substancialmente aumentados para serem competentes?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Gestores e remunerações

Em 2001 ficámos de tanga. Já lá vão sete anos. Mandaram-nos apertar o cinto. Mais e mais. Continuamos de tanga e sem vislumbrar o dia em que vamos poder desapertar o dito cinto. Os funcionários públicos viram os seus vencimentos congelados e, quando viram aumentos, foram sempre inferiores à inflação. Estamos a perder poder de compra todos os anos. Os meses são cada vez mais compridos. Está difícil chegar ao fim do mês sem dívidas. Quando se chega. Mas nestes anos todos o que vemos? Que o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior. E dizem-nos que isto é socialismo.

Do que nós temos poupado, o Estado “deu” 27 milhões de euros, em 2007, a gestores públicos. E, depois de proclamar aos sete ventos que o número de funcionários públicos é exagerado, o Ministro das Finanças admite que o número de gestores públicos aumentou. Afinal estamos a ver quem aumenta os funcionários públicos. E logo os que são pagos a peso de ouro! Os que ganham dez vezes mais que os seus equivalentes alemães! 349 mil euros foi o custo médio por administração. Quantas dezenas de anos um português médio terá que trabalhar para auferir essa quantia? Esses gestores públicos podem ser competentes mas não estão nos lugares pela sua competência. Alegam-me que para se exigir competência tem que se remunerar convenientemente. Então, eu e tantos portugueses que ganham mal, podemos dar-nos ao luxo de ser incompetentes.


Julgava eu, na minha ingenuidade, que ser competente era a obrigação de qualquer trabalhador. Gestor, electricista, economista, médico, padeiro, professor, político…
Afinal ando enganada há mais de meio século. Para se ser competente é preciso ganhar muito, muito dinheiro. Que estúpida tenho sido! A levar a minha profissão tão a sério para ganhar uma miséria. E há quem ganhe muito menos do que eu! Este país não merece os portugueses trabalhadores honestos e competentes que tem. Como diria o meu pai “é dar pérolas a porcos”.

Enquanto continuar a haver cidadãos, amigos dos governantes e colocados em locais estratégicos, que autodefinem o seu vencimento, não me falem em socialismo.

domingo, 27 de julho de 2008

Derrapagem da Ponte Europa

O Tribunal de Contas disse, em 2004, que a obra da Ponte Europa, hoje Ponte Rainha Santa Isabel (?) foi adjudicada por 38,65 milhões de euros. A obra ficou em 111,3 milhões", o que representa uma derrapagem de 288%.
António Laranjo, o anterior presidente da Estradas de Portugal propôs, no ano passado, ao Governo que arquivasse o processo de apuramento de responsabilidades pela referida derrapagem. O Governo diz, agora, que "Não se afigura desejável nem adequado o arquivamento do processo".

O IEP, apesar de dispor de relatórios do Tribunal de Contas, da Inspecção Geral das Obras Públicas (IGOP) e de uma sociedade de advogados que já indiciavam responsabilidades, nunca retirou as devidas consequências. Os documentos criticam decisores políticos, projectistas, o consórcio Somague/Novopca e o dono da obra - JAE, ICOR e IEP. O IGOP considera "um caso exemplar de como não promover, projectar e construir uma obra pública".

No entanto, eu concordo com António Laranjo. Arquive-se. Para quê investigações? Os portugueses pagam a ponte, que isso sim, acontece sempre e deixemo-nos de teatros. Para quê gastar dinheiro se, todos sabemos, neste país a culpa morre sempre solteira? Ou já alguém viu algum decisor político, projectista, Somague/Novopca, JAE, ICOR e IEP ser condenado?

sábado, 26 de julho de 2008

O concelho do nosso primeiro

Diz-se que há um exagerado número de funcionários públicos. Se calhar há. Mas uma coisa é certa. Nenhum funcionário público aparece no seu posto sem mais. Ou concorreu a um concurso e foi admitido (caso dos funcionários públicos de mais baixos salários) ou o pai, o padrinho, o cunhado, o amigo… está no Governo, numa Câmara, numa Instituição e “dão o jeito” de os por lá a ganhar bem. A cunha é a mais sólida Instituição portuguesa e a única que se mantém sempre a funcionar maravilhosamente apesar das mudanças contínuas de equipas governativas.
Assim, os funcionários públicos que existem, existem porque os Governos assim o entenderam. Os mesmos Governos que dizem que o número é exagerado. Mas, há um estudo que os órgãos de comunicação não fazem (porquê?) que é saber desse número imenso de funcionários públicos, quantos trabalham directa ou indirectamente para o Governo.

Há uns tempos fiz um estudo para o concelho de Vizela que pode ver aqui e hoje debrucei-me sobre o concelho onde nasceu o primeiro-ministro - Alijó. Vamos então:
O concelho tem uma área de menos de 300 quilómetros quadrados (equivale a um quadrado com 17 quilómetros de lado), onde existem 49 povoações, e está dividido em 19 freguesias. É verdade. Para 49 povoações há 19 freguesias. Se olharmos para a área, cada freguesia não chega a ter, em média, 16 quilómetros quadrados (equivale a um quadrado com 4 quilómetros de lado). Um presidente de Junta por cada 800 habitantes.

Cada quintal destes custa-nos um edifício para a junta de freguesia, com todas as despesas que um edifício destes acarreta, e os ordenados do presidente da junta e de todos os que com ele trabalham.
Este concelho é um dos 14 que compõem o distrito de Vila Real que tem de área 4300 quilómetros quadrados. Assim sendo, cada concelho deste distrito tem, em média, a área deste. Ao todo há, no distrito de Vila Real, 277 freguesias. Como no Distrito de Vila Real há 218935 habitantes, temos uma média de uma junta de freguesia por cada 790 portuguesas. Nada mau!

Quantos funcionários públicos trabalham, e ganham, em todas as Juntas de Freguesia dos Concelhos em que nosso pequeno País está esquartejado? Adorava saber.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Pergunto eu

Para construir o TGV, os IPs, os ICs, as auto-estradas e tantas outras obras, que alguém considera (discutivelmente) como prioritárias para uma melhor qualidade de vida dos portugueses, o Governo tem prejudicado cidadãos que compraram, ou herdaram, as suas terras, as suas casas em locais que consideravam seus. Limita-se a expropriar os terrenos que precisa, sem qualquer preocupação de lhes oferecer compensações por essa perda inesperada e irreparável.

Por que razão apregoa agora uma série imensa de compensações aos cidadãos do Oeste pelo facto de o projecto do aeroporto ter passado da OTA para Alcochete?

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Portugal e os ciganos da Quinta da Fonte

O caso dos ciganos da Quinta da Fonte já me nauseia. E o tempo de antena que os órgãos de comunicação social dão àquelas pessoas, também. Ainda hoje o Presidente da Câmara de Loures dizia que a edilidade não tinha dinheiro para lhes dar outra casa e que havia mais gente necessitada. Já lhes demos, com os nossos impostos, uma casa, eles querem outra e ainda parece que estamos a pedir desculpa por não lha darmos. Esta minoria é mais do que os outros portugueses que, para terem uma casa, estão a pagar ao banco? Quanto português remediado tem um plasma? Eu não. Eles têm.
E se um cidadão comum se desesntender com um vizinho? A Câmara dá-lhe outra casa? Em local escolhido?

"O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter.
"Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..." Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos autodesalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e autodenominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências sócio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor."


(Mário Crespo, JN)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

TGV

Estive a jantar com duas das minhas filhas e com quatro dos meus netos. Dei comigo a pensar no Portugal onde viverão estes pequerruchos? O futuro deles está a ser comprometido pela megalomania dos políticos portugueses. Possivelmente o futuro dos filhos deles… e o futuro dos filhos dos filhos deles.

Quando vou a Lisboa viajo no alfa. Em menos de três horas vou de Lisboa ao Porto com toda a comodidade. Nalguns troços o alfa vai a uma velocidade superior e 200 km/h e noutros troços a 40 km/h. Quer isto dizer que o alfa não está a ser rentabilizado. Se o fosse, demoraria duas horas, ou pouco mais a fazer a viagem.

Este Governo insiste no TGV Lisboa – Porto. Um TGV que nos vai custar uma fortuna e, ainda por cima, vai ter mais paragens que o alfa. Como ainda me não explicaram a razão da necessidade do brutal investimento que se vai fazer, sou livre de pensar que seria bem mais sensato e económico arranjar uma linha para o alfa onde este pudesse ter uma velocidade média compatível com as suas potencialidades. Os comboios já nós temos. Estarei a raciocinar mal? Faltar-me-ão dados para equacionar o problema?

Mas isso não era uma obra suficientemente grande para a marca “Sócrates”.
Os países são como os cidadãos. Há os pobres, os remediados, os ricos e os muito ricos. Se Portugal é um país pobre ou, na melhor das hipóteses, remediado, que o seja assumidamente e viva como tal. Tem que aprender a viver com aquilo que tem e deve olhar primeiro para o que são as necessidades primárias do seu povo. Mas de todo o seu povo. Ninguém é mais que ninguém por ter mais bens, mas é mais que muitos se souber gerir bem aquilo que tem.

Agora vejam os TGVs que precisamos.

Daniel Campelo não comprometeu o futuro dos seus munícipes e tem a cidade de Ponte de LIma linda, conservada e com inúmeros eventos que atraem os turistas, nacionais e estrangeiros. Uma terra onde se vai sempre com gosto. O Governo que lhe siga o exemplo e olhe para as nossas reais necessidades onde não está, definiticamente, o TGV Porto - Lisboa.

domingo, 20 de julho de 2008

Assim vai a Matemática

"As negativas da Matemática no exame nacional do 9º ano caíram quase 30 pontos percentuais este ano, face a 2007, segundo dados revelados quinta-feira à noite pelo Ministério da Educação." - foi noticiado.

O Ministério da Educação informou que a «maioria dos alunos alcançou novamente uma classificação positiva na prova de Língua Portuguesa, enquanto na de Matemática «verifica-se a existência de progressos importantes, atribuíveis ao esforço de professores e alunos e a instrumentos de apoio».

Ninguém, em sã consciência, acredita neste milagre. Será os alunos do ano passado eram um desastre e que os deste ano são bons? É evidente que esta diferença não corresponde só a uma melhoria de aprendizagens. Não há possibilidade de, em Educação, analisar resultados de uma qualquer medida de um ano para o outro. Demora anos e anos... Uma legislatura não chega, para mal dos inúmeros ministros que a educação já contabiliza. Essa a maior razão do desastre educativo. Cada um que chega quer "meter o Rossio na Betesga"...

A Sociedade Portuguesa de Matemática considerou hoje que os resultados dos alunos do 9º ano à disciplina "na realidade, são piores" do que revelam as notas do exame nacional, porque as perguntas da prova, "na maioria dos casos, eram demasiado elementares". Por alguma razão uma aluna, na comunicação social lamentava não haver perguntas com algum grau de dificuldade para destacar os melhores alunos.

Numa turma de 7º ano, neste ano lectivo que está a terminar, uma apresentou esta resposta:
Repare-se como a aluna efectua a soma, alinhando oa números pelo primeiro algarismo, e como calcula o dobro, dividindo por dois.
O mais complicado foi explicar à aluna que chegou ao resultado certo por mero acaso. E com esse resultado certo, ainda conseguiu errar a alínea seguinte.

sábado, 19 de julho de 2008

Novas Oportunidades

Recebi por mail um filme com uma sátira às Novas Oportunidades, que podem ver aqui, em que o Tó diz: "Eu nem sabia que o Governo andava a dar cursos até que um dia abri um pacote de batatas fritas e saiu-me uma licenciatura (...) Parece que dá para dar aulas. Agora queria é que tivesse saído médico. Isso sim. (...) Já me disseram é que no bolicau é que saem cursos porreiros. Tenho de comprar bolicau."


Num jantar que de amigos, na passada quarta-feira, tentei resumir a um amigo, que é médico numa cidade nortenha, o conteúdo do filme. Ele contou-me uma conversa tida com uma doente. Vou tentar reproduzi-la.
- Ando muito cansada. O trabalho na fábrica é muito violento. Queria arranjar outra coisa e fui estudar outra vez porque só tinha o 5º ano. - diz a senhora dos seus 40 anos


- Fez muito bem. - disse o médico - E o que estudou?

- Fiz o 9º ano.

- Deve ter sido violento trabalhar todos os dias e ainda ir às aulas.

- Não ia à escola todos os dias. Só ia duas vezes por semana.

- Então era intensivo. Quantas horas de aula tinha? - perguntou o médico.

- Aquilo começava às 7 e pelas 8 e pouco saía. Ainda dava tempo para ir fazer o comer.

- Essas aulas realizaram-se durante um ano?

- Não. Começaram depois da Páscoa e acabaram no princípio de Julho.

- Então teve de fazer trabalhos escritos.

- Tive que fazer no computador a história da minha vida. Diz que é o currículo. Deu-me muito trabalho porque eu não sei mexer no computador mas os meus filhos ajudaram. Ainda tive que arranjar um dossiê para por os sumários.

- O que é isso dos sumários? – perguntou o médico.

- São as folhas que eles nos dão nas aulas.

- Teve, com certeza, que fazer uma prova oral.

- Não senhor doutor. Fui lá, entreguei o currículo e os sumários e a senhora deu-me os parabéns. Depois a Ministra deu-me o diploma.


Pessoas qualificadas assim estão tramadas e são aos milhares. Mas o importante para este executivo é que esta senhora, e os milhares que se qualificam assim, são números que entram para as estatísticas.