Recebi por mail um filme com uma sátira às Novas Oportunidades, que podem ver aqui, em que o Tó diz: "Eu nem sabia que o Governo andava a dar cursos até que um dia abri um pacote de batatas fritas e saiu-me uma licenciatura (...) Parece que dá para dar aulas. Agora queria é que tivesse saído médico. Isso sim. (...) Já me disseram é que no bolicau é que saem cursos porreiros. Tenho de comprar bolicau."
Num jantar que de amigos, na passada quarta-feira, tentei resumir a um amigo, que é médico numa cidade nortenha, o conteúdo do filme. Ele contou-me uma conversa tida com uma doente. Vou tentar reproduzi-la.
- Ando muito cansada. O trabalho na fábrica é muito violento. Queria arranjar outra coisa e fui estudar outra vez porque só tinha o 5º ano. - diz a senhora dos seus 40 anos
- Fez muito bem. - disse o médico - E o que estudou?
- Fiz o 9º ano.
- Deve ter sido violento trabalhar todos os dias e ainda ir às aulas.
- Não ia à escola todos os dias. Só ia duas vezes por semana.
- Então era intensivo. Quantas horas de aula tinha? - perguntou o médico.
- Aquilo começava às 7 e pelas 8 e pouco saía. Ainda dava tempo para ir fazer o comer.
- Essas aulas realizaram-se durante um ano?
- Não. Começaram depois da Páscoa e acabaram no princípio de Julho.
- Então teve de fazer trabalhos escritos.
- Tive que fazer no computador a história da minha vida. Diz que é o currículo. Deu-me muito trabalho porque eu não sei mexer no computador mas os meus filhos ajudaram. Ainda tive que arranjar um dossiê para por os sumários.
- O que é isso dos sumários? – perguntou o médico.
- São as folhas que eles nos dão nas aulas.
- Teve, com certeza, que fazer uma prova oral.
- Não senhor doutor. Fui lá, entreguei o currículo e os sumários e a senhora deu-me os parabéns. Depois a Ministra deu-me o diploma.
Pessoas qualificadas assim estão tramadas e são aos milhares. Mas o importante para este executivo é que esta senhora, e os milhares que se qualificam assim, são números que entram para as estatísticas.