sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Nada me espanta mas continua a indignar-me

Embora nada do que vem da classe política me espante, ultimamente tem havido factos que me deixam cheia de interrogações.
O PS e o PSD não se sentam à mesma mesa para debater e acordar sobre a vida dos portugueses comuns, que eles – hipocritamente - dizem representar, mas sentaram-se à mesma mesa e chegaram a um acordo sobre aquilo que lhes diz exclusiva e directamente respeito – as inaceitáveis subvenções vitalícias. O facto de terem retirado a proposta não retira a gravidade do problema e só mostra que eles tinham aprovado algo que achavam uma vergonha descarada. São farinha do mesmo saco...
Mas se esta vergonha das pensões vitalícias estava no Orçamento de Estado, por que razão os partidos mais à esquerda, os jornalistas, os comentadores, os opinion makers,… nunca levantaram esta questão? 
António Costa já disse “não ter nada a ver com isso”. Devia, então, lamentar que o PS tivesse decidido aprovar a suspensão das ditas subvenção sem lhe dar cavaco? O CDS já se manifestou alheio ao problema. O PSD tentou desculpar-se dizendo que não era a altura oportuna. O BE, sem nunca se ter manifestado contra as injustificadas pensões vitalícias, teve a esperteza de sair por cima mas aguarda que a “suspensão” acabe. Saem todos mal, como de costume.
Relativamente aos vistos gold, até haver corrupção, ninguém colocou entraves ao programa. Agora propõem que o programa acabe. Não conheço bem o programa mas sei que o facto de ter havido corrupção, nada tem a ver com o programa. Também houve corrupção, e da grande, na Parque Escolar e ninguém propôs que se acabasse com as obras nos edifícios escolares.

Neste país a corrupção aparece sempre que estejam em causa dinheiro e poder. Infelizmente. Sempre. 

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Até no portal das finanças gozam connosco


No dia 11 de Abril de 2014 coloquei, no e-balcão, uma questão sobre o meu IRS de 2013 que teria que ser liquidado até ao final de Agosto.

No dia 11 de Agosto (quatro meses depois) foi colocada a seguinte resposta à minha questão. “A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) agradece o seu contacto. Apesar das pesquisas efetuadas com base no registo da questão não foi possivel identifica-la, pelo que se solicita que a mesma seja formulada de novo Com os melhores cumprimentos AT- Autoridade Tributária e Aduaneira”
No dia 18 de Agosto reformulei a minha questão explicando pormenorizadamente a situação e a dúvida que tinha.
No mesmo dia encontrei a resposta no Portal das Finanças:
“A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) agradece o seu contacto. Apesar das pesquisas efetuadas com base no registo da questão não foi possivel identifica-la, pelo que se solicita que a mesma seja formulada de novo Com os melhores cumprimentos AT- Autoridade Tributária e Aduaneira”
No dia 20 de Agosto, apesar de considerar que tudo estava claro desde a primeira vez que coloquei a questão no portal e que qualquer pessoa entendia a minha dúvida, voltei a reformular a questão.
No próprio dia o e-balcão respondeu:
“A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) agradece o seu contacto. Apesar das pesquisas efetuadas com base no registo da questão não foi possivel identifica-la, pelo que se solicita que a mesma seja formulada de novo Com os melhores cumprimentos AT- Autoridade Tributária e Aduaneira”
Cheia de estar a ser gozada, perdi a cabeça e, no dia 25 de Agosto, escrevi no e-balcão:
“Se do e-balcão só se consegue esta resposta repetidamente por mais formulações que se façam ao problema, fechem essa porcaria. Qualquer ignorante que lesse as minhas dúvidas percebia o que eu pretendia mas as pessoas que aí trabalham continuam a não perceber e a pedir nova formulação. Pela minha parte a brincadeira acabou. Vou pagar o IRS, porque o prazo está a acabar, mas estou convicta de que estou a ser roubada. As finanças agarram-se ao facto das pessoas não terem dinheiro para pagar a um advogado, para retirarem aos contribuintes, não políticos ou não poderosos, o dinheiro que muito bem entendem sem sequer se disponibilizarem para tentar dar uma justificação.”
Pois no próprio dia tinha a resposta do e-balcão no portal
“A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) agradece o seu contacto. Apesar das pesquisas efetuadas com base no registo da questão não foi possivel identifica-la, pelo que se solicita que a mesma seja formulada de novo Com os melhores cumprimentos AT- Autoridade Tributária e Aduaneira”
No dia 26 de Agosto voltei a escrever no e-balcão
“É preciso ter lata! Até para uma reclamação a resposta é a mesma! Em vez de divulgarem este serviço, mais valia fechá-lo.”
No dia 27 de Agosto tinha nova resposta da AT no portal. Imaginam o conteúdo? Esse mesmo:
"A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) agradece o seu contacto. Apesar das pesquisas efetuadas com base no registo da questão não foi possivel identifica-la, pelo que se solicita que a mesma seja formulada de novo Com os melhores cumprimentos AT- Autoridade Tributária e Aduaneira”

Claro que desisto mas gostava de saber por que divulgam o e-balcão. Ainda no dia 6 de Agosto recebi mais um mail que diz:
“O Serviço e-balcão é um balcão eletrónico de atendimento, que está à sua disposição no Portal das Finanças. Através dele pode colocar todas as suas questões a qualquer Serviço da AT, incluindo aquelas que, até agora, exigiam a sua deslocação ao Serviço de Finanças.
A partir de agora já não precisa de se deslocar nem de perder tempo.
Este serviço garante segurança e confidencialidade nas suas questões e respostas da AT, uma vez que o acesso é efetuado através de autenticação no Portal das Finanças com a sua senha de acesso.
As respostas às suas questões ficam disponíveis no Portal das Finanças.”

Só se esqueceram de dizer que qualquer que seja a questão colocada, a resposta é sempre a mesma. Mais valia divulgar a resposta pelos contribuintes e podiam estar sempre de férias…

É o país que temos, são os serviços públicos que temos, são os funcionários públicos que temos!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Que triste figura!


Fui professora durante 36 anos e conheci, e conheço, professores competentes e incompetentes. Mas quero realçar que conheci professores excepcionais. Professores cientificamente competentes, com uma relação óptima com os alunos, sempre disponíveis a ajudar os alunos dentro e fora do seu horário. É com orgulho que continuo a receber mensagens de ex-alunos que marquei positivamente.

Foi com uma tristeza enorme que vi a triste figura que fizeram os professores que invadiram o Rodrigues de Freitas. Um grupo de professores, que não representam a classe, e que se portaram como uma turma de catraios que eu não queria ter como alunos nem como professores dos meus netos.

Independentemente de se concordar ou não com a prova, considero que esta não é uma maneira de professores se manifestarem tanto mais que eles deviam ser um exemplo para os alunos.

Na minha concepção de democracia, os professores deviam ser livres de optar livremente por realizar ou não a prova. Não me parece democrático que professores impeçam professores de tomarem as suas opções livremente.

Esta má imagem da classe docente que passa para o público era perfeitamente evitável. Felizmente eu sei que estes professores são uma minoria.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Caloiros do meu país

Em 12 de Setembro de 2003, foi publicada uma crónica minha num semanário para o qual escrevi durante uns anos. Hoje teria que fazer ajustes mas diria quase a mesma coisa. O problema das praxes continua e cada vez com piores consequências. Será que ninguém tem mão nestes selvagens?
Aqui fica novamente a crónica que tem mais de dez anos.

CALOIROS DO MEU PAÍS !


 Um novo ano escolar começou. E com ele há mais uma montanha de caloiros. Caloiros que vão ser aliciados para colaborar com a estupidez da praxe. A praxe foi uma tradição coimbrã, quando Coimbra era uma pequena cidade estudantil. Tudo o resto eram toscas imitações. Hoje em dia a praxe está deslocada, não tem qualquer justificação, é estúpida e selvagem. Não há razão de espécie alguma que justifique a humilhação de pessoas. Pôr os caloiros a quatro, feitos animais, a dizer obscenidades, colocar-lhes bosta na cara, obrigá-los a tirar a roupa ou a simular actos sexuais, mergulhá-los em tanques públicos são algumas das idiotices que os alunos mais velhos fazem aios caloiros. Mais grave. Fazem-no com orgulho e ainda acham graça. Não é assim que se inserem os novos alunos no novo mundo que os espera. O que se passa é perfeitamente lamentável. 

No ano passado houve vários caloiros que se queixaram dos “maus tratos” de que foram alvo. A primeira a ter direito a notícias de destaque foi a aluna da Escola Superior de Saúde de Macedo de Cavaleiros. A aluna queixou-se e fez ela muito bem. Teria feito ainda melhor se se tivesse recusado a participar nas idiotices. Mas, se assim fosse, este problema não teria chegado ao conhecimento de todos nós. Na altura um jovem da comissão de praxes do Instituto teve tempo de antena na televisão. Só perdeu por ter aberto a boca. E que não pense que os que o ouviram são parvos. Claro que considerou tudo natural e inocente e, quando lhe perguntaram se a aluna sofria sanções se se recusasse a ser praxada, ele respondeu com um categórico não. Mas acrescentou que apenas ficaria impedida de participar em actividades académicas. Então quem se recusa a colaborar nestas tristes cenas é penalizado?!  Quem são estes galfarros para punir um(a) colega? Com este caso gerou-se uma polémica que durou meses. Foram trocados “mimos” entre a direcção do Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros e o Ministro Pedro Lynce. Todos garantiram que o sucedido ia ser averiguado e os responsáveis punidos. Prometeu-se “ir até às ultimas consequências”. Quais foram? Que aconteceu aos praxistas que ultrapassaram o limite do aceitável? Como conheço o meu país e os seus habitantes, presumo que tudo tenha ficado por aí mesmo. Daí a minha preocupação ao ver aproximar-se, novamente, a altura das “praxices".  

Em Agosto foi veiculado pela comunicação social que um despacho assinado pelo ministro da Ciência e Ensino Superior autorizou a colocação de uma aluna, que se queixou de abusos praxistas, para outra instituição do ensino superior. Mais. No caso de a instituição não ter vagas para recebê-la, o ministério autorizou a criação de um lugar adicional já que “existe fundamento para que seja atribuído um tratamento excepcional”. Ou seja, quem agiu mal fica na maior e quem foi vítima muda-se. É este o país que temos... É esta a maneira de actuar do Senhor Ministro da Educação... 

 Em Janeiro deste ano Pedro Lynce prometeu legislar sobre as praxes. Mas entre o que os políticos prometem e o que fazem vão muitos milhões de anos-luz. Daí que eu não fique minimamente admirada de nada ter sido feito. Aliás houve denúncias relativamente a abusos nas praxes entre 1997 e 2000 que, pura e simplesmente, foram arquivadas. Por outro lado, os responsáveis dos estabelecimentos do ensino superior também, tanto quanto sei, nada fazem. Excepção feita ao Instituto Politécnico de Leiria que criou o provedor do caloiro. É muito pouco mas é melhor que nada. E, neste país, já não é mau pensarmos em termos de “é melhor que nada”. Gostava de conhecer as propostas que apresentaram o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, o Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos e a Associação Portuguesa de Ensino Superior Particular para o regime disciplinar para os alunos do ensino superior. 

Daí que o meu apelo se dirija àqueles em quem ainda posso (quero poder...) confiar. Jovens caloiros do meu país! Vocês não podem viver a vida sem lutar. Contestem desde que com argumentos válidos. Não vão em carneiradas. Não fiquem calados quando a razão está do vosso lado. Não temam ser diferentes. Não temam dizer não a todo e qualquer tipo de humilhação. Denunciem tudo o que considerem ser um abuso por parte dos praxistas. Os mais velhos só têm mais do que vocês uma coisa – a idade. E mais idade, infelizmente, nem sempre corresponde a mais responsabilidade. Lembrem-se da Sophia de Mello Breyner que diz “Porque os outros se calam mas tu não”. 

Jovens caloiros do meu país! O Dr. Pacheco Pereira escreveu há tempos, a propósito das praxes, que “cada vez mais a única coisa que os estudantes transportam do liceu para a universidade é a sua carga de ignorância”. Embora eu esteja tentada a concordar com ele, peço-vos que me ajudem a provar que tal afirmação não é correcta. Conto convosco.