quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Era... mas já não é.

Os deputados Alegres deixaram cair a máscara e votaram a mesma suspensão da avaliação dos professores em sentido contrário ao da última vez. Se calhar, parafraseando Augusto Santos Silva, foram chamados à pedra.
Os Alegres querem estar de bem com Deus e com o Diabo. A política e os políticos que temos são estes. Sem valor e sem valores.

Enquanto eu fazia as rabanadas e os sonhos, Santana Castilho escrevia:

"Era mas já não é. O que é?

Era necessário observar aulas de professores avaliados, mas já não é. Só a pedido, para quem aspire a ser muito bom ou excelente.
Era necessário observar três aulas, mas já não é. Duas chegam, a pedido.
Era o coordenador que avaliava os colegas de departamento, mas já não é. Agora pode vir alguém de fora, rigor científico protegido.
Era muito importante cumprir objectivos previamente definidos, mas já não é. Os resultados escolares e as taxas de abandono deixaram de contar.
Era necessário fazer reuniões entre avaliadores e avaliados, mas já não é. Basta que estejam de acordo.

Era um processo para todos, mas já não é. Ficam de fora os contratados para determinadas áreas tecnológicas e artísticas, não pertencentes aos grupos de recrutamento, e os que se reformarão até 2011. Tudo somado, uns belos milhares.
Era preciso desdobrar um monte de fichas numa montanha de parâmetros para chegar a uma avalanche de itens, mas já não é. Caiu o número quê bê.

O que é? A saga da avaliação do desempenho no seu melhor, a política a descer ao charco. A juventude socialista foi para a porta das escolas doutrinar os alunos com manifestos apelativos. Nos jornais, os de distribuição gratuita incluídos, em prática antes nunca vista, publicam-se anúncios, pagos com o dinheiro dos nossos impostos, para arregimentar o pagode. Os endereços electrónicos dos professores, facultados para outros fins, protegidos pela ética da protecção de dados, ora mandada às malvas, são usados pelo Ministério da Educação, para manipular e pressionar. A remuneração complementar dos futuros directores das escolas, os peões que a visão napoleónica de Sócrates começa a colocar no terreno, subiu quase 50 por cento. Aos saltimbancos da profissão acenou-se com um generoso aumento de vagaspara o próximo concurso. O que é? A investida do Governo para dividir e desmobilizar os professores, no sentido de esvaziar a greve marcada para 19 de Janeiro.

Já aqui escrevi que a avaliação é um epifenómeno menor de uma política desastrosa para a qualidade da educação. Neste conflito, já perdeu o país. Já perderam os alunos. Já perdeu o Governo, o primeiro-ministro e a ministra da Educação. Podem agora perder os professores se não perceberem, como classe com responsabilidade social particular, que é a dignidade deles e a qualidade da escola pública que estão em jogo.
Talvez possamos ser indulgentes para com os pobres que vendem o voto por electrodomésticos distribuídos porta a porta. Mas não esperem os professores indulgência se cederem às primeiras facilidades e aceitarem sinecuras sem princípios.…"


Vieram as ameaças aos professores que recusem a avaliação, com processos, e aos Conselhos Executivos, com demissão. Os Conselhos Executivos, futuras Direcções, que já estavam, na sua grande maioria, de cócoras perante a Ministra, agora não vão querer perder os brutais aumentos das suas remunerações complementares. Associar o poder pelo poder, a um outro poder (o de compra) e, ainda por cima sem ter horário lectivo ou tê-lo reduzido, é ouro sobre azul. Assim a Ministra compra as direcções das escolas...
Coitados dos professores que não puderam reformar-se! Agora têm que lutar contra uma série de Ministros - a central e os locais.

"A violência, seja qualquer for a maneira como se manifesta, é sempre uma derrota"
Jean-Paul Sartre

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