sábado, 19 de junho de 2010

Haja bom senso

Detesto hipocrisias. Tenho pena de todas as pessoas que morrem porque eu gosto da vida e desejo, para os outros, aquilo que, para mim, é bom.

Morreu um homem – José Saramago. Um português da cultura que escolheu viver em Espanha. Um português que levou Portugal a todo o mundo. Daí a haver dois dias de luto nacional, um avião, pago por nós, para ir buscar o corpo de Saramago a Espanha e 24 horas diárias da comunicação social a falar da sua morte, vai um exagero que não entendo.

Na minha opinião não há insubstituíveis. A vida continua, morra quem morrer nem que essa morte seja a de um humilde pai de família que era o sustento de todos os seus.

Saramago ganhou um prémio Nobel. É um orgulho para Portugal. Nessa altura, cheguei a ouvir, ver e ler que Portugal ganhou o seu primeiro prémio Nobel. Santa ignorância! O nosso grande Egas Moniz ganhou um prémio Nobel em 1949. Um homem que teve uma vida difícil por causa da sua actividade política em prol da liberdade de expressão e pensamento. “As suas duas descobertas mais importantes foram a angiografia cerebral, conseguida em 1927 e a leucotomia pré-frontal, concretizada em 1935. A primeira foi premiada com o Prémio de Oslo de 1945 e a segunda com o Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1949.” Alguém se lembra de Egas Moniz? Alguém fala em Egas Moniz? Por acaso faz parte do percurso escolar dos jovens uma alusão ao trabalho e à vida de Egas Moniz? Quantos portugueses já visitaram a Casa-Museu Egas Moniz em Avanca? Eu já a visitei três ou quatro vezes e já lá levei dois grupos de jovens.

Até na morte é preciso ter sorte.

Será que algum peso na consciência leva a que a morte de Saramago tenha este mediatismo? Agora todos adoram o homem, o cidadão português e o escritor. Se morresse o Cristiano Ronaldo também teríamos luto nacional? Tivemos este exagero quando morreu a Engenheira Maria de Lourdes Pintassilgo, que exerceu o cargo de Primeira-ministra deste país? Tivemos este exagero quando morreu a Grande Sophia de Melo Breyner? Tivemos este exagero quando morreu o grande Eugénio de Andrade? E tantos, tantos homens e mulheres de valor que nos deixaram heranças notáveis mereceram isto?

Eu sei que é "bem" dizer que já se leu muito Saramago, que se adora a escrita de Saramago, que é o maior escritor português. Mas eu não ligo ao que é “bem”, digo o que penso e dou a cada pessoa o direito a ter os seus gostos e as suas preferências.

Enquanto escritor não me vai fazer falta. Tenho cinco livros dele e não consegui ler nenhum até ao fim. Não aprecio a sua forma de escrever e tenho esse direito.

Como cidadã portuguesa, também não vou sentir a sua falta. Por algumas vezes me senti incomodada com as palavras de Saramago ao país onde nasceu.

Enquanto católica praticante, Saramago também não me vai fazer falta. Respeito todas as convicções religiosas e todas merecem respeito. A minha nem sempre foi respeitada por Saramago.

Que descanse em paz!

2 comentários:

Gaivota Maria disse...

Boa!!!

GP disse...

Gaivota Maria
Esta "cena" está a irritar-me solenemente. Morreu, endeusou...
Hipócritas! Injustos! Falsos!

Se o Saramago é insubstituível, que dizer de pais que perdem o seu filho único. O Pedro tinha 23 anos, acabado de licenciar em Economia e ficou na Circunvalção a uns metros de casa. Para a Fernanda, o Pedro é insubstituível mas ela continua levando a vida.

beijinho