No Pau de giz vou começar a transcrever pedaços de crónicas minhas publicadas há anos. Aproveito para relembrar e ver que o país onde tive a desdita de nascer não consegue mesmo progredir.
Hoje deixo aqui um pouco de "Ler, escrever e contar" publicada em Março de 2001.
"Todos acompanhámos as eleições americanas. Depois de semanas e semanas a contar, recontar e passar à lupa os boletins de voto, Bush lá chegou à presidência dos Estados Unidos da América. E, para começar, colocou no topo da agenda a educação. Elegeu-a como a sua paixão. (Onde é que eu já ouvi isto?). Pelos vistos Bush chegou à conclusão que a educação não está lá grande coisa. Acontece aos melhores. Mas o presidente é realista. Quer começar pelo princípio, com pequenos passos e propostas viáveis. Começar pelos mais pequeninos. Começar por baixo. Faz ele muito bem. A única coisa onde se começa por cima é a abrir buracos, sempre ouvi dizer desde miúda. Quer, então, o presidente que, dentro de quatro anos, todas as crianças saibam ler, escrever e contar quando completarem nove anos. Era exactamente o que nós devíamos querer. Quer, e muito bem, avaliar as escolas. É assim que deve ser. Exigir. Desde que sejam dadas as condições para tal. Quem não cumpre, deve ser penalizado por isso. Não se deve deixar impune quem não faz aquilo que é sua obrigação fazer. A todos os níveis.
A proposta feita por Bush foi aceite por democratas e republicanos. Ou seja, todos concordam que o ensino não vai bem e todos querem melhorar as coisas. Governo e oposição põem de parte as partidarices políticas para, conjuntamente, resolverem um problema que afecta todos os jovens que serão os homens e mulheres de amanhã. Por cá, quando um Governo, tenha ele a cor que tiver, faz uma proposta, só tem como certa uma coisa. A divergência da oposição. Qualquer que seja a proposta.
Querer que as crianças com 9 anos saibam ler, escrever e contar é querer na medida certa. Algo que podia muito bem ser copiado por nós. Aliás, nós já tivemos isso por cá. Já lá vai o tempo em que, com a quarta classe, se sabia ler, escrever e contar. Até se sabia muito mais do que isso. Nem tudo estaria bem nessa altura. Saber de cor as paragens e apeadeiros da linha do Norte ou da Beira Alta, convenhamos, que não tem grande interesse. Mas também tinha a vantagem de se ficar a saber que o Entroncamento não fica em Trás-os-Montes. E não me consta que haja gente traumatizada por ter aprendido, na instrução primária, a ler, escrever e contar como deve ser. Depois, uns iluminados chegaram à conclusão que as criancinhas de hoje não são feitas da mesma massa que eram as de algumas dezenas de anos atrás. Tudo as traumatiza. A talho de foice, conto aqui uma história de que tomei conhecimento há dias. Uma mãe, preocupada com a péssima caligrafia do filho, mal de que padece a grande maioria dos alunos, sugeriu à professora do 1º ciclo que pusesse os alunos a escrever em cadernos de linhas. A professora, escandalizada, argumentou que isso iria restringir a criatividade dos alunos. Bons tempos em havia caligrafia. Em que um a era um a ou um o era um o para toda a gente; em que um a minúsculo não era um A maiúsculo pequenino. Chegámos a isto. Os alunos completam o nono ano sem saber ler, escrever e contar. Mas o que se quer, de há muito tempo a esta parte, é que toda a gente tenha a escolaridade obrigatória. Mesmo que não saiba nada de nada. Em termos estatísticos, para consumo interno, isso conta muito.
..."
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
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